O CAPITALISMO BRASILEIRO É UM AMOR, É OU NÃO É? - CAPÍTULO - LIX
“Terrorismo” do mercado é chantagem para impedir a queda dos
juros, denuncia Marconi
“Até porque essa mudança de meio de superávit para zero em
2025 não é nenhuma mudança avassaladora”, afirmou o economista da FGV. “Se o
governo tivesse deixado o investimento fora da regra do arcabouço fiscal, nada
disso estaria acontecendo”
O professor Nelson Marconi, economista da Fundação Getúlio
Vargas, avaliou, na sexta-feira (19/04/24), em entrevista ao HP, que a
pressão que o mercado financeiro está fazendo neste momento visa manter as
taxas de juros elevadas. Nos últimos dias quase todos os economistas ligados ao
sistema financeiro fizeram parte de uma orquestração uníssona exigindo cortes
de investimentos e gastos sociais.
Eles fizeram previsões catastróficas se os cortes de
investimentos públicos não forem feitos. Ameaçaram com “explosão” da dívida se
o governo não se render aos seus interesses.
Marconi desvendou o que há por trás dessa orquestração do
mercado financeiro: “É uma queda de braço para impedir uma redução da taxa de
juros”, aponta Marconi. “Até porque essa mudança de meio de superávit para zero
em 2025 não é uma nenhuma mudança avassaladora”, destacou.
“O mercado realmente está fazendo um terrorismo com essa
questão porque o governo reduziu a meta fiscal dele, que era uma coisa que todo
mundo já sabia. Já estava certo que o governo não teria como cumprir a meta
anterior”, observou o professor, lembrando que o ajuste pela arrecadação acabou
não ocorrendo.
“Já
estava certo que o governo não teria como cumprir a meta anterior”
Ele lembrou ainda que “realmente o governo precisava aumentar
a receita sobre a renda dos mais ricos, precisava rever uma série de
desonerações, isso dentro de um plano maior. Isso precisava ficar claro para o
Congresso, numa situação melhor para negociar”.
“O governo não está fazendo isso e tem uma série de despesas
que não tem como ele reduzir, Saúde, Educação, coisas que estavam deterioradas
no governo passado”, apontou.
“Então”, prosseguiu Marconi, “era líquido e certo que isso ia
acontecer, e o mercado, na verdade, está fazendo essa pressão porque ele quer
manter os juros num patamar alto. Isso é muito claro. É uma queda de braço para
impedir uma redução da taxa de juros”.
“Se o governo tivesse deixado o investimento fora da regra do
arcabouço fiscal, nada disso estaria acontecendo”, afirmou o economista.
“Se
o governo tivesse deixado o investimento fora da regra do arcabouço fiscal,
nada disso estaria acontecendo”
Marconi explicou que se os investimentos tivessem ficado de
fora, “o governo (…) teria espaço para cumprir os outros compromissos dele
(investimento) do ponto de vista de pagamentos, as despesas obrigatórias, como
nós estamos falando”.
“Então, o que conta mesmo para a dívida, que é o juros, o
pagamento dos juros, ninguém discute”, prosseguiu o especialista. O Brasil
pagou de juros R$ 740 bilhões nos últimos 12 meses.
“Se ele tivesse deixado o investimento de fora, a relação dívida PIB estaria mais estável. O investimento estaria puxando o crescimento da economia e, o mais importante nessa questão toda – e que ninguém fala, a dívida/PIB estaria mais estável. E, logicamente, os juros teriam que estar mais baixos. Os juros ficando altos, a gente vai ter uma despesa financeira muito alta”, completou o professor da FGV.
Autor: Nelson Marconi
Publicado originalmente no jornal Hora do Povo