HISTÓRIA ECONÔMICA DO SÉCULO XXI: CAPÍTULO - X

 


Além dos lucros: como a ideologia dos CEOs molda as estratégias empresariais

Estudo revelam que executivos moldam as estratégias de maneira a refletir suas convicções políticas e pessoais

Quando pensamos em CEOs de grandes empresas, muitas vezes imaginamos figuras frias e calculistas, movidas exclusivamente pelo lucro. Desde Adam Smith, sabemos que os ganhos econômicos são um impulso fundamental no mercado de trabalho.

Porém, economistas têm apontado que outros fatores também influenciam as decisões. Consideração pela posição social, valores morais, ideologias políticas e vieses cognitivos são alguns desses elementos.

Essas influências adicionam complexidade às decisões estratégicas, mostrando que as metas financeiras são apenas uma parte do que define a atuação de um líder empresarial. Entender essa dinâmica ajuda a compreender como os líderes empresariais equilibram a pressão por lucros com o compromisso com funcionários, comunidades e o meio ambiente.

Para entender essa dinâmica, Linda Treviño e outros pesquisadores buscaram entender sobre como a ideologia política, seja conservadora ou progressista, afetaria a probabilidade dos CEOs de grandes empresas enfatizarem a responsabilidade social corporativa (CSR).

As ideologias foram analisadas a partir das doações políticas ao longo dos 10 anos antes de assumirem o cargo e contrastam esses dados com o portifólio de ações sociais das companhias. Os resultados encontrados mostram que líderes progressistas são mais propensos a participar de ações de engajamento social através de suas empresas do que seus pares conservadores.

Esse fenômeno se torna ainda mais acentuado à medida que o poder executivo desses gestores se amplia, permitindo-lhes implementar a CSR mesmo diante de um desempenho financeiro não tão favorável.

Esse resultado ressalta a predisposição dos líderes mais progressistas em incorporar valores sociais e ambientais nas missões corporativas. Assim, evidenciando como experiências pessoais e convicções podem influenciar nas práticas empresariais.

Reforçando essa tendência, outro estudo explora a interação entre a ideologia política dos CEOs e seus traços de personalidade, como narcisismo e extroversão, e o impacto dessa interação nas estratégias empresariais.

Abhinav Gupta e demais especialistas descobriram não só que os executivos progressistas, sobretudo os extrovertidos, são mais propensos a adotar práticas CSR, mas também que conservadores tendem a favorecer estratégias de redução de custos e sustentabilidade financeira.

Essa dinâmica sublinha a complexidade das decisões de liderança, mostrando que elas refletem não só convicções ideológicas, mas também aspectos da personalidade do líder.

Adicionalmente, o papel do CEO como articulador político principal da empresa, investigando como sua ideologia política influencia a atividade política corporativa (CPA) foi analisado por Michael Hadania, Nicolas Dahanb e Jonathan Doh.

O conceito envolve uma série de atividades, como doações para campanhas eleitorais, lobby, advocacy, petições e organização de campanhas midiáticas. Essas ações podem ser integradas estrategicamente para alinhar os recursos e objetivos da empresa com o ambiente político em que atua.

A pesquisa revela que a dualidade de papeis desses executivos —simultaneamente líder e presidente do conselho, por exemplo— pode moderar a relação entre a CPA e o desempenho empresarial. Esse achado aponta para a importância da estrutura organizacional e dos mecanismos de governança na mediação entre visões pessoais e ações corporativas no âmbito político.

Esses estudos, ao serem analisados conjuntamente, revelam que os CEOs, influenciados por suas histórias de vida, valores e vieses, moldam as estratégias empresariais de maneira a refletir suas convicções políticas e pessoais.

No entanto, essa influência é mediada por fatores como o poder frente aos conselhos, traços de personalidade e a estrutura organizacional da empresa.

Essa perspectiva enfatiza a necessidade de líderes reflexivos e cientes de como suas experiências e vieses influenciam suas decisões. Além disso, facilita a compreensão da sociedade frente a decisões arriscadas, controversas ou que não garantiriam lucro imediato por parte dessas lideranças.

Portanto, a intersecção entre ideologia política e estratégia empresarial não deve ser vista apenas através de lentes financeiras, mas também como um reflexo de suas trajetórias e muitas vezes interesses políticos.

Sem essas considerações, será difícil avançar na discussão sobre uma governança empresarial mais segura para investidores e funcionários e financeiramente mais sustentável.

Publicado originalmente no jornal Folha de São Paulo

Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

 

 

 

Postagens mais visitadas deste blog

PORQUÊ SOU KEYNESIANO

HISTÓRIA DO BRASIL - ANO MMXXIII DO QUADRIÊNIO DA ESPERANÇA, VOZES DO BOM SENSO: BRESSER-PEREIRA

HISTÓRIA DO BRASIL - ANO MMXXIII DO QUADRIÊNIO DA ESPERANÇA: REFORMA TRIBUTÁRIA - lll