IPCA
O IPCA é um dos índices de inflação mais
tradicionais e importantes do Brasil. Criado em 1979, o indicador tem uma razão
de existência simples: medir a variação dos preços de um conjunto de produtos e
serviços vendidos no varejo e consumidos pelas famílias brasileiras.
O significado do acrônimo é Índice de
Preços ao Consumidor Amplo. O indicador tem como objetivo abranger 90% das
pessoas que vivem nas áreas urbanas no país – e é justamente por isso que é
chamado de “amplo”. O resultado da conta indica se, na média, os preços
aumentaram, diminuíram ou permaneceram estáveis de um mês para o mês seguinte.
O alvo da metodologia do IPCA são as famílias com
rendimentos de 1 a 40 salários mínimos, qualquer que seja a sua fonte de renda.
Para chegar ao índice de inflação, são coletados os preços entre os dias 1º e
30 de cada mês em lojas e estabelecimentos de prestação de serviços,
concessionárias de serviços públicos (como água ou energia elétrica), além da
internet.
A cesta de produtos e serviços pesquisados
mensalmente envolve itens de naturezas variadas. Entram arroz e feijão, é
claro, mas também consulta médica, mensalidade escolar, aparelhos eletrônicos e
atividades de lazer. Cada um tem um peso maior ou menor conforme a presença
deles na cesta de consumo média da população. Assim, os itens relacionados à
alimentação costumam ter um peso maior do que, por exemplo, comunicação ou
vestuário.
O IPCA é o indicador central, mas outros
semelhantes orbitam em torno dele. O IPCA-15, por exemplo, segue a mesma
metodologia. A única diferença é o período de coleta, que vai do dia 16 do mês
anterior ao dia 15 do mês seguinte. Já o IPCA-E – ou Especial – representa o
índice acumulado a cada trimestre pelo IPCA-15.
Composição
Para
chegar à composição da cesta de produtos e serviços que terão os preços
acompanhados regularmente, o IBGE parte
da Pesquisa de Orçamentos Familiares – a POF. Esse levantamento procura
mensurar os hábitos de consumo das pessoas, indicando que peso cada tipo de
gasto tempo tem no orçamento médio dos brasileiros.
A
POF é atualizada de tempos em tempo. Afinal, a cesta de consumo atual dos
brasileiros é diferente da que vigorava há dez ou 20 anos. Quando isso
acontece, o cálculo do IPCA também é modificado. O objetivo é assegurar que o
índice reflita uma situação o mais próximo possível da realidade das pessoas.
Isso garante a relevância metodológica do indicador.
A
composição do IPCA foi atualizada no início de 2020. Um total de 377 diferentes
itens passaram a ter seus preços coletados todos os meses, divididos em nove
grupos de gastos:
|
Grupo |
Peso (%) |
|
Alimentação
e bebidas |
19,3 |
|
Habitação |
15,6 |
|
Artigos
de residência |
3,8 |
|
Vestuário |
4,6 |
|
Transportes |
20,6 |
|
Saúde
e cuidados pessoais |
13,5 |
|
Despesas
pessoais |
10,7 |
|
Educação |
6,1 |
|
Comunicação |
5,7 |
Fonte: IBGE
A
versão atual da cesta do IPCA incluiu elementos que, até pouco tempo atrás, nem
existiam – transporte por aplicativos ou serviço de streaming, além de pacote
de telefonia, internet e TV por assinatura, por exemplo. Por outro lado, saíram
itens que deixaram de ter representatividade na estrutura dos gastos das
famílias brasileiras, como máquina fotográfica, revelação e cópia, locação de
DVD, telefone público, além de carne em conserva e patê.
Também
é importante lembrar que as regiões do Brasil têm um peso diferente na
composição do IPCA. Os dados são coletados nas regiões metropolitanas de 16
capitais, mas cada uma tem uma representatividade específica no cálculo.
O
que determina essa diferença é a renda média das famílias. Assim, lugares em
que o rendimento é maior pesam mais no IPCA. O contrário também é verdadeiro. A
estrutura de pesos regionais do indicador é a seguinte:
|
Área |
Peso (%) |
|
Rio
Branco |
0,5 |
|
Belém |
3,9 |
|
São
Luís |
1,6 |
|
Fortaleza |
3,2 |
|
Recife |
3,9 |
|
Aracaju |
1,0 |
|
Salvador |
6,0 |
|
Belo
Horizonte |
9,7 |
|
Vitória |
1,9 |
|
Rio
de Janeiro |
9,4 |
|
São
Paulo |
32,3 |
|
Curitiba |
8,1 |
|
Porto
Alegre |
8,6 |
|
Campo
Grande |
1,6 |
|
Goiânia |
4,2 |
|
Brasília |
4,06 |
Fonte: IBGE
O
IPCA faz parte de uma importante estratégia da política monetária no Brasil.
Ele é o indicador de referência para o sistema de metas de inflação, criado em
1999. Segundo esse sistema, o país se compromete a adotar estratégias para
conseguir manter a inflação dentro de uma faixa fixada periodicamente pelo
Conselho Monetário Nacional (CMN).
Em
2020, a meta era 4% ao ano, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto
percentual para cima ou para baixo. A meta será considerada cumprida, portanto,
se ao final do ano o IPCA acumulado se encontrar dentro da faixa entre 2,5% e
5,5%.
A
principal ferramenta que o Banco Central tem para fazer cumprir a meta de
inflação é a taxa
de juros. Por isso, a Selic (juros
básicos da economia brasileira) é aumentada quando os preços começam a subir de
maneira perigosa. Taxas mais altas tendem a encarecer o crédito e frear o
consumo. Já quando os preços estão controlados, o Banco Central tem mais
liberdade para reduzir os juros e estimular a economia.
Caso
as medidas não sejam suficientes e o IPCA encerre o ano em um patamar acima do
previsto no sistema de metas, o presidente do Banco Central precisa se explicar
ao ministro da Fazenda, indicando que ações serão adotadas para que a inflação
volte para a faixa de tolerância, e em quanto tempo.
O que faz a inflação subir e cair
Em
geral, os preços de uma economia se ajustam conforme a demanda e a oferta por
produtos e serviços. Quando a demanda por certos produtos é maior do que a
capacidade de fornecê-los, é natural esperar que o preço deles aumente.
Isso
pode acontecer em períodos de prosperidade, quando a renda está em alta e mais
pessoas têm condições de consumir, sem que as empresas tenham ainda tido tempo
para ajustar o nível da sua produção. Picos de inflação costumam ocorrer nessas
épocas. Por outro lado, quando o consumo está em queda, os preços tendem a
ficar estagnados.
Embora
essas situações sejam comuns, elas não são uma regra. Em alguns casos, mesmo
economias em recessão podem registrar período de inflação alta (a “estagflação”).
O excesso de gastos públicos também pode ser uma causa de inflação, pois mais dinheiro em circulação costuma aquecer a economia. Uma movimentação brusca no câmbio, devido a um choque externo, também pode acabar provocando ajustes de preços internamente, já que uma parcela dos produtos que consumimos ou são importados ou são cotados em dólar.
